Arão Dava, 2008
A crise dos
EUA, pegou de surpresa mesmo aos mais atentos analistas das Relações
Internacionais. As questões que me incomoda é, estaremos perante a crise do
paradigma liberal? Ou estaremos perante a emergência de um novo paradigma?
O paradigma constitui um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, um
conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização
científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência
inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.
As várias áreas de
conhecimento, incluindo as Relações Internacionais, tomaram de empréstimo o
conceito paradigma, do físico americano Thomas Kuhn, (1922 - 1996), celebre por
suas contribuições à história e filosofia da ciência em especial do processo
(revoluções) que leva a evolução do desenvolvimento científico, designou como
paradigmáticas as realizações científicas que geram modelos que, por período
mais ou menos longo e de modo mais ou menos explícito, orientam o
desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para
os problemas por elas suscitados.
No livro “A estrutura das Revoluções
Científicas”, Tomas Kuhn apresenta a concepção de que “um paradigma, é aquilo
que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade
científica consiste em homens que partilham um paradigma”, p. 219 e define “o
estudo dos paradigmas como o que prepara basicamente o estudante para ser membro
da comunidade científica na qual actuará mais tarde”, p. 31.
Desde os
finais da década de 80 do século passado, a democracia liberal e o capitalismo,
vinham sendo tidos como dominantes, isto é, paradigmas, sob ponto de vista
ideológico, académico e político-econó mico e militar. Quer dizer que a
democracia liberal e o capitalismo eram promovido sobretudo por académicos e
lideres políticos ocidentais, como únicas alternativas ao desenvolvimento e às
relações internacionais. Uma das manifestações mais emblemáticas dessa ofensiva
foi, a publicação em 1989 do artigo, "O fim da história" e, posteriormente,
lançamento do livro “O fim da história e o último homem”, em 1992, ambos do
norte-americano Francis Fukuyama. O esforço principal de Fukuyama, foi o de
tentar elaborar uma linha de abordagem da história, indo de Platão a Nietzsche e
passando por Kant e Hegel, a fim de revigorar a tese de que o capitalismo e a
democracia burguesa constituem o ponto mais alto da evolução da história da
humanidade, ou seja, de que a humanidade teria atingido, no final do século XX,
o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental
sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes.
Tal como
defendeu Fukuyama, o sec passado viu, primeiramente, a destruição do fascismo e,
em seguida, do socialismo, que fora o grande adversário do capitalismo e do
liberalismo no pós-guerra. O mundo teria assistido ao fim e ao descrédito dessas
duas alternativas globais, restando apenas, actualmente, em oposição à proposta
capitalista liberal, resíduos de nacionalismo, sem possibilidade de significarem
um projecto para a humanidade, e o fundamentalismo islâmico, confinado ao
Oriente e a países periféricos. Assim, com a derrocada do socialismo, Fukuyama
conclui que a democracia liberal ocidental firmou-se como a solução final do
governo humano, significando, nesse sentido, o "fim da história" da humanidade.
Ao que parece a abordagem histórica de Francis Fukuyama foi precipitada
na medida em que, recorrendo a Platão a Nietzsche e passando por Kant e Hegel
ignorou outras realidades, como diria mais tarde em reacção, Samuel P.
Huntington na obra, Choque de civilizações. Basicamente segundo Huntington as
identidades culturais e religiosas dos povos serão a principal fonte de conflito
no mundo pós-Guerra Fria.
Aliás para Huntigton
Minha
hipótese é que a fonte fundamental de conflitos neste mundo novo não será
principalmente ideológica ou económica. As grandes divisões entre a humanidade e
a fonte dominante de conflitos será cultural. Os Estados-nações continuarão a
ser os actores mais poderosos no cenário mundial, mas os principais conflitos da
política global ocorrerão entre países e grupos de diferentes civilizações. O
choque de civilizações dominará a política global. As falhas geológicas entre
civilizações serão as frentes de combate do futuro.( Cópia oficial (em inglês):
The Clash of Civilizations?, Foreign Affairs, verão de 1993
Os resíduos
do nacionalismo e o fundamentalismo, apontados por Fukuyama como “oposição
insignificante ao capitalismo liberal”, constituem hoje ameaças significantes
com fortes possibilidades resultarem no chamado Spillover effect podendo
aumentar o número de adeptos. Não seria dificil encontrar exemplos de
nacionalismos e fundamentalismos que constituem grande ameaça para os EUA, basta
olhar para os casos da Venezuela, Coreia do Norte, Irão, Afeganistão notaremos
que outras alternativas ao capitalismo liberal são tidas em conta e defendidas
como valores em muitos cantos do globo.
Mas o propósito deste artigo,
não é certamente discutir as falhas de Huntigton ou de Fukuyama. Mas responder a
questão, estaremos perante a crise do paradigma liberal? Ou estaremos perante a
emergência de um novo paradigma? A resposta tem como base alguns sinais no
sistema internacional.
- A “mão invisível “ está demasiado
descontrolada de tal forma que ela começa a tomar conta da liberdade económica e
politica do indivíduo, isto é, o indivíduo perde a sua liberdade a favor do
mercado. Se a idéia da mão invisível é melhor a situação por exemplo dos pobres
numa economia equilibrada e sustentável, tal não está a acontecer.
- O
modelo escolhido e defendido pelo China está a aumentar a sua legitimidade como
alternativa, na medida em que, por exemplo actual crise norte americana não
teria os mesmo efeitos na China, ja que as empresas estratégicas estão nas maos
do Estado e são contraladas.
- A solução encontrada pelo ocidente no
geral é nacionalizar ou subsidiar aos bancos em falência, ora este é o modo de
agir típico do socialismo.
Estes cenários meramente económicos estão
a encontrar suporte em outros domínios que afectam as democracias liberais como
são os casos :
- Crise da oposição – Em vários países começa a ser
tomada a sério a possibilidade de existência pelo menos na pratica de apenas um
partido governante sem possibilidade de alternativa e alternancia. Moçambique,
Angola e Africa do sul, são exemplo claros da fragilização de oposição e da
transformação do partido dominante em partido nacional.
- Referencia da
Russia – A Russia reaparece no cenario politico internacional como mais um poder
desafiante ao centro. A invasão ao Geogia e exercicios militares com a
Venezuela, o apoio militar a Etiopia são sinais que claramente desafiam o
ocidente, sobretudo os EUA.
- O crescimento económico da China.
A minha hipóteses é de que estamos perante a emergência de um
novo paradima, ideológico que ira orientar o mundo sob ponto de vista
ideológico.
Não sei como chamarei este paradigma, novo mas certamente,
que agora sim, chegamos ao fim da história, na sequência de um casamento entre o
capitalismo e o socialismo – mais ou menos no estilo chinês. Nada será como
antes.